domingo, 24 de janeiro de 2010

237 escolas com aulas de religião evangélica mostram influência do culto

por PATRÍCIA JESUS E RITA CARVALHO

Há 20 anos, evangélicos tinham apenas quatro turmas. Mas, só do ano passado para este, passaram a estar em mais 34 escolas

Há já 237 escolas públicas com aulas de educação moral e religiosa evangélica. Mais 34 do que no ano passado, diz Isabel Pinheiro, presidente da Comissão para a Acção Educativa Evangélica (Comacep). No total são 256 turmas e perto de dois mil alunos que optaram por ter aulas dadas por um professor de denominação evangélica. Este é apenas um dos sinais da crescente presença dos evangélicos na sociedade portuguesa, que está a preocupar a Igreja Católica.

"Temos mais turmas do que no ano passado e cerca de 20 escolas ainda por resolver, por causa de dificuldades na colocação de professor, já que ninguém aceita fazer isto por dinheiro", garante Isabel Pinheiro, explicando que um professor de religião evangélica recebe 30 euros por mês, por leccionar uma hora por semana.

Uma dificuldade que não tem impedido o crescimento: há 20 anos, quando começaram nas escolas públicas, tinham apenas quatro turmas. O dinamismo é uma imagem de marca: usam cartazes atractivos para promover a disciplina e quando o número de alunos é inferior a dez (o mínimo para formar uma turma oficial) a Comacep não desiste: propõe a realização de actividades de enriquecimento curricular.

Os cerca de dois mil alunos estão longe dos mais de 250 mil inscritos em Religião e Moral Católica (dados de 2008), mas além destas duas religiões existe apenas outra confissão: os baha'i, que estão presentes numa escola em Guimarães. Dado que atesta bem a influência social que as igrejas evangélicas já têm em Portugal.

Para a responsável, as aulas não são um espaço de evangelização mas sim de debate dos valores cristãos. "Temos alunos ateus, agnósticos ou até alunos que eram católicos, embora não sejam a maioria", explica. A maioria são crianças cujos pais seguem uma das confissões que fazem parte da Aliança Evangélica. "Há pequenas diferenças entre estas denominações, sobretudo na forma, mas todas estão agregadas na Aliança e têm uma declaração de fé única", explica.

O aumento de turmas evangélicas exprime bem a dimensão que estas igrejas ganharam nas últimas décadas. As únicas estatística oficiais são as dos Censos, em que não aparece a designação evangélicos, levando os membros da Aliança a dividirem-se por "protestantes" e "outras religiões cristãs". Mas a Aliança estima que tenham 250 mil membros e outros tantos "aderentes", incluindo-se aqui simpatizantes e crianças, só baptizadas na idade adulta. Estão em todo o território, possuem mais de 1500 locais de culto, 900 ministros, 12 escolas e uma rede social com mais de 60 instituições.

Há 20 anos, o número de fiéis andaria pela metade, estima António Barata, pastor e historiador das comunidades protestantes. "Começaram a crescer nos anos 50, mas nos anos 90 houve um grande aumento com a chegada dos imigrantes", disse ao DN, explicando que estas igrejas se disseminam por células que se vão autonomizando. "Crescem de forma biológica, ou seja, pelas famílias que educam os filhos na fé, mas também à custa da imigração e de crentes de outras confissões, como os católicos", acrescenta o historiados.

A Igreja Evangélica Maranata, por exemplo, chegou a Portugal trazida por brasileiros e hoje os fiéis são maioritariamente portugueses, explica a socióloga da religião Helena Vilaça. O testemunho da conversão dos crentes, o espírito de entreajuda e de pertença, bem como o aumento da liberdade religiosa, ajudam a explicar esta expansão.

O facto de as igrejas evangélicas não obedecerem a uma estrutura hierarquizada potencia esta disseminação, explica Samuel Pinheiro, presidente da Aliança Evangélica. "A dinamização e a iniciativa são mais produtivas, pois cada comunidade vai ao encontro das necessidades locais", acrescenta.

A Igreja Católica está preocupada com este fenómeno, reconhece Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal. "As paróquias deviam ser esta comunidade de relacionamento próximo e personalizado. Mas é natural que nas comunidades mais pequenas haja esta vantagem", disse.

Para repensar a pastoral da Igreja, ou seja, a forma de transmitir a mensagem à população, foi criado recentemente um grupo de reflexão que apontará caminhos e soluções.

post original: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1477436

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